Palavras: 2990
Sinopse: Relato de quando Xichen foi sequestrado por inimigos e torturado por dias antes que pudesse ser usado como peão no jogo perigoso que se meteu pelos namorados.
Avisos: VIOLÊNCIA, TORTURA, LEIA COM CUIDADO, GATILHOS. A parte após o ⍟ foi feita por @UlvaCloud, eu só editei.
Xichen não sabe o que aconteceu. Tudo aconteceu muito rápido para que ele pudesse ter seus sentidos totalmente aguçados… A última lembrança que ele tinha era Yao com o semblante indignado olhando para a mulher que supostamente era sua mãe. De repente, Xichen se sentiu sendo atingindo por trás, é aí que suas lembranças acabam.
Apesar da consciência funcionando, o primogênito dos Lan sabia que estava desacordado. Não importava os esforços que fazia para abrir os olhos, era impossível, por isso, ele precisou de ajuda externa para sair desse estado. E a ajuda veio… em forma de água gelada sendo lançada no seu rosto, mas veio. Xichen então abriu os olhos, arfando ao mesmo tempo em que puxava o ar para os pulmões, tremendo enquanto a água gélida encharcava suas roupas.
- Eh? Finalmente acordou, ‘querido professor’. - Uma voz masculina desdenhosa soou na frente de Xichen. O Lan levantou a cabeça, percebendo só agora que ele estava amarrado em uma cadeira com cordas mágicas, resistentes a sua força física. - Vá avisar a Madame. - O homem falou para alguém fora do quarto que Xichen não podia ver. - Ela vai ficar extasiada quando ver que o ‘professor’ acordou.
O desconhecido chegou perto de Xichen e puxou seus cabelos pela raiz, o forçando a olhar para o rosto debochado do primeiro. Claramente Lan Huan ainda estava muito desnorteado, então ele escolheu não ter nenhuma reação drástica ainda. Era importante ele entender primeiro a situação que estava antes de decidir como revidar. Mesmo assim, ele encarou o rosto do homem na sua frente, causando um sorriso nojento aparecer no outro.
- Hm, agora eu entendo porquê aquele viadinho ingrato e o brutamontes dos Nie gostam tanto assim de você… Estranhamente charmoso, ‘professor’. - Cada vez que ele usava o título, o estômago de Xichen dava uma volta. - Diz, depois que a Madame terminar, o que acha de eu pedir para ela me dar você? Hm? Acho que podemos nos divertir, hein.
Ele havia se aproximado para sussurrar na orelha de Xichen, que mordeu o lábio para não revidar naquele instante. Era claro que o Comensal iria falar mais, porém neste momento, uma voz feminina soou junto com passos fora da sala. O homem com Xichen finalmente largou seu cabelo e afastou seu rosto, dando dois ou três passos para trás. Seu rosto agora era solene.
- Então ele acordou? Já era hora! - Uma mulher que parecia ter por volta dos 40 anos entrou na sala. Xichen sabia que ela era mais perigosa do que deixava aparente e imaginava a verdadeira identidade dela. Sua voz causou dor de cabeça no Lan que tremia por ter sido molhado. A mulher não hesitou, se aproximou de Xichen e com apenas um balanço de braço, deixou a marca de todos os seus dedos na pele pálida da jade.
- Sabe por que está aqui, meu ‘genro predileto’? - Ela não esperou ele responder para continuar. - Está aqui porque seus namorados não prestam. Eles te deixaram, fugiram enquanto te largaram para trás, nas nossas mãos. Eles preferiam correr para se salvar e deixar você para aguentar a punição que era para eles. - Ela tinha um sorriso maníaco no rosto que distorcia qualquer beleza que poderia existir ali. Xichen não aguentou e balançou a cabeça.
- Não é verdade… Eles jamais fariam isso. - A voz do homem amarrado estava calma. Ele tinha plena confiança em seus namorados, sabia que nenhum dos dois permitiria que aquilo fosse verdade. Os dois poderiam ter muitos defeitos, mas covardia não fazia parte deles. - Por que eu realmente estou aqui, MeiLin? - Lan Huan testou o nome. Assim que recebeu outro tapa violento, ele sabia que havia deduzido certo.
- Tolo! - O grito fez com que Xichen arfasse, sentindo a cabeça vibrar. Ele fechou os olhos, mas logo foi forçado a abri-los quando unhas afiadas encontraram seu couro cabeludo e prenderam seus fios, inclinando seu queixo para cima pela força. - Não importa se não acredita! Quando terminarmos com você, nada disso vai importar! - O último sorriso dela antes de largá-lo congelou Xichen ainda mais do que a água que foi absorvida pelo seu suéter.
Depois disso, ela se virou e saiu da sala, sendo acompanhada pelo Comensal que acordou Xichen. O Lan foi deixado para tremer sozinho, ainda amarrado na cadeira. Ele pensou nos namorados que MeiLin havia citado. Eles estavam bem… Xichen precisava acreditar que eles estavam bem e que o achariam… Claro que ele faria de tudo para sair de lá sozinho, mas se as circunstâncias não mudassem, seria preciso mais do que sua mente analítica para isso…
Fora da sala, longe do alcance da audição do homem raptado, MeiLin dava ordens para os Comensais ao seu redor. Enquanto ela gritava, a dois desses Comensais foram entregues taças, uma com um líquido dourado e a outra com um líquido verde-líquen. Os dois se curvaram de dor depois que beberam, mas depois de segundos novas roupas foram entregues para eles, que sorriam maliciosamente.
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A porta de Xichen só abriu novamente no domingo. O bruxo sequestrado não tinha noção de quanto tempo havia se passado exatamente, mas ele estimava a passagem de tempo graças ao seu organismo, acostumado com uma rotina rígida. Mesmo tremendo de frio e começando a ficar fraco de fome, Xichen adormeceu e acordou no horário que lhe era habitual, o que o ajudou a estipular quantas horas haviam passado.
Quando acordou de novo, porém, Xichen não estava mais amarrado em uma cadeira, mas suspenso pelas mãos, preso ao teto, no centro do quarto. Ele deveria estar exausto para não sentir seu corpo sendo movido… Seus pés ainda tocavam o chão, mas ele estava completamente desconfortável. Ele testou as cordas e ainda eram as enfeitiçadas que o restringiam.
Como esperado, MeiLin foi a primeira a entrar na sala, seguida do Comensal do dia anterior. A mulher trazia um sorriso maldoso e um frasco de poção de odor estranho. Sem que ela precisasse dizer algo, o homem livre agarrou o rosto de Xichen por trás e forçou sua boca aberta. Xichen queria resistir, mas, estando sem comer desde o dia anterior e com uma leve febre do banho gélido, não havia chances de evitar que o líquido fedorento descesse por sua garganta.
- O que me fez beber? - A voz dele estava rouca pela falta de uso e pela força que o Comensal usou.
- Não quero ter o problema de te alimentar durante sua estadia aqui. - A mulher soltou uma risada maníaca. - Mesmo assim, temos que te manter vivo até eu não ter mais uso para você, não é mesmo, meu ‘genro predileto’? - Seu tom desdenhoso arrancou um sorriso complacente do Comensal e calafrios de Xichen.
- Por que está fazendo isso? Qual é o seu objetivo-Ah! - O professor não pode terminar os seus questionamentos antes de sentir unhas quebrando a camada de pele de seu queixo. O rosto distorcido de raiva súbita da mulher se aproximou tanto que Xichen podia ver os pequenos defeitos nele que eram invisíveis a uma distância segura.
- Por que? Porquê, você me pergunta? É claro que é porque aquele empecilho merece sofrer. Nem ele nem a aberração dos Nie merecem ter uma vida boa e feliz. - Ela soltou uma risada estridente. - Eu planejo fazê-los cair no desespero aos poucos, um passo de cada vez. Você é só o começo, ‘querido professor’. - Então se virou para o Comensal, soltando o rosto de Xichen. - Sabe o que fazer.
- Oh, se sei. - O tom aveludado do homem fez calafrios percorrerem o corpo de Lan Huan. Ele endureceu sua expressão, tentando focar seus sentidos no homem que rodeava suas costas. - Não se preocupe, Madame. Vou deixá-lo preparadíssimo para a nossa surpresa. - Com um som de concordância, MeiLin deixou o quarto. Logo que a porta fechou, um estalo foi ouvido. Xichen congelou antes de respirar fundo. Ele sabia que aquilo viria.
- Sabe? Eu estou curioso desde que chegou aqui. Será que sua pele é branquinha assim por completo? - Rindo de maneira detestável, o Comensal não se segurou. Rápida e continuamente, ele depositou 10 golpes de chicote nas costas de Xichen, que, tirando uma respiração tremida na primeira chicoteada, não esboçou mais reação. O que fez com que uma sobrancelha do Comensal levantasse.
- Eh, bem resistente para um bom rico como você. - O tom era claramente de desdém. - Mas eu estava certo… - Ele aproximou a boca do ouvido de Xichen e sussurrou. - Sua pele é tão branca que ficará linda manchada de sangue, ‘professor’. - Com isso, ele puxou o que sobrou das costas do suéter que Xichen usava. Deixando agora a pele machucada mas ainda não sangrando do Lan a mostra.
- Eu me pergunto, o que será que o viadinho ingrato diria se te visse assim? Ouvi dizer que ele também usa um chicote. Mas duvido que ele saiba como usá-lo com você, não é? - A cada pontuação, a cada mudança de tom, a cada pausa para respirar dele, Xichen recebia um golpe. Sua respiração estava pesada e ele não conseguia mais segurar alguns espasmos involuntários e pequenos grunhidos de dor.
- O que será que ele está fazendo agora enquanto você está aqui, hein? Será que ele está fudendo aquele brutamontes? Estarão eles celebrando o seu sacrifício por eles? Você sabe que a culpa é deles de você estar aqui, né ‘professor’? - Xichen perdeu a conta depois do 50º golpe. Seu corpo era forte, mas não poderia negar que nunca tinha sofrido tantos machucados físicos de uma única vez.
O homem continuou soltando ofensas e desferindo chicotadas contra ele, mas Xichen tentava focar apenas em sua respiração, fazendo o que podia para não perder a consciência. Ele não queria arriscar de novo deixar seu corpo sozinho com esse lunático, ainda mais com as obscenidades que ele sussurrava quando vinha abrir ainda mais os machucados de Xichen com os dedos e com o cabo do chicote. Isso continuou até Xichen não aguentar mais o Comensal cutucando suas feridas e soltar um grito de dor.
- Finalmente! - O agressor riu. - Eu achei que precisaríamos ficar aqui o dia todo. - Ele então foi até a porta e gritou algo para alguém fora do quarto. Xichen estava exausto demais para se importar em escutar. Ele deixou a cabeça cair e viu o chão e as calças vermelhos de sangue… Sangue dele… O Lan voltou a tentar se controlar focando na respiração.
- Como você aguentou bem, aqui sua recompensa. - O tom alegre e leve do homem com chicote fez Xichen querer chorar. Ele negou com a cabeça, querendo não receber a tal ‘recompensa’. - O que? Não quer? Pena que não nos importa. - O outro passou pela porta e disse para alguém que Xichen ainda não podia ver. - Todo seu, divirta-se.
Então o sequestrado que fora açoitado ouviu dois tipos de passos diferentes. Um parecia leve e alegre, enquanto o outro parecia pesado e determinado. Ele tinha a impressão de conhecer aqueles passos, mas não seria possível, não é? Não teria como ser realmente eles, não é? O desespero crescente na boca do estômago de Xichen explodiu quando ele levantou a cabeça e viu quem eram os recém chegados.
- Não… Não, não, não! Não é possível, vocês não são eles! NÃO SÃO ELES! - O professor que fez questão de se manter forte durante as provocações anteriores não pode segurar mais o ódio dentro dele. Como eles se atreviam a usar a imagem de seus namorados para isso? - COVARDES! - Xichen se debateu apesar da dor para se soltar das amarras. - Covardes… - Ele sentiu as lágrimas escorrendo enquanto via as duas formas se aproximando dele.
Fora daquele lugar, na sala sofisticada de MeiLin, a mulher andava de um lado para o outro, preocupada. Em um surto, ela já havia virado a mesa e quebrado alguns vidros. Ela não podia evitar de perder a calma quando o assunto era destruir a vida daquele imbecil que ela havia parido.
- Tem certeza que dará certo? Sabe o que acontecerá a você e a sua família se isso não dar certo, não é, Doutor? - Ela voltou os olhos venenosos e enlouquecidos para o homem que tremia sentado na única poltrona não destruída no surto de MeiLin.
- Sim, Madame. Uma semana é mais do que suficiente para conseguirmos. Ainda mais levando em conta a reação que ele teve com a chegada dos dois. Não vai demorar para quebrarmos totalmente e então condicioná-lo.
- Ótimo. - A mulher então abriu um sorriso que congelou o homem.
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O resto dos dias passou como um borrão para Xichen. Depois da aparição dos Comensais fingindo ser seus amados, tudo que ele podia fazer para manter a sanidade durante as sessões de tortura era recitar como um mantra: “Não são eles, não são eles”. A febre do resfriado não tratado consumia suas forças, além dos machucados em suas costas, pernas e braços.
Segunda: O primeiro Comensal que o recebeu não apareceu mais. Agora era aquele casal perturbador que seguia com as torturas. Eles pareciam ter mudado de tática para atingir Xichen de maneira mais eficiente. Disseram palavras doces no domingo, até que ele estivesse esgotado demais para continuar revidando com grosseria. No dia seguinte, eles chegaram com agulhas e facas.
As mesmas palavras doces vinham deles, como se não ouvissem os gritos e as ofensas de Xichen. Enquanto eles inseriam as agulhas em seus dedos e usavam as facas para abrir fendas delicadas em sua pele, o casal sussurrava palavras de amor, de gratidão, de eterna dedicação. Eles falavam o quanto nunca o esqueceriam e o quanto estavam orgulhosos do sacrifício dele por eles. Eles não paravam até Xichen estar exausto de vomitar e de dor.
Terça: MeiLin o visitou para perguntar o que achava do presente que ela havia lhe dado. Xichen não pode responder, já que estava ocupado recitando seu mantra que o ajudava a manter a mente clara. Ele estava usando técnicas de meditação para suportar a dor física, abstraindo sua mente de seu corpo. Mas o ataque mental de ver aquelas figuras específicas fazendo aquilo com ele…
Era mais do que ele poderia racionalmente processar. A ideia de que alguém que deveria protegê-lo fazendo coisas horríveis com ele não era nova e sempre foi uma mancha na mentalidade quase perfeita do primogênito dos Lan. Somando isso à febre alta e à poção que o mantinha minimamente vivo sem comida e água, Xichen já estava desgastado, apesar de continuar esperançoso.
Quarta: As torturas não paravam. O casal passava horas com Xichen, sempre trazendo modos novos, como eletricidade ou pregos. Já não era possível mais ouvir muitos gritos da pobre vítima, já que Xichen se concentrara em recitar seu mantra como forma de salvação. Ele mantinha seu rosto sempre molhado de lágrimas e tremia constantemente.
O doutor psiquiatra responsável pelo processo só conseguia sorrir enquanto estudava os sinais de reação que apareciam em Xichen… Sim… Ele havia retornado exatamente para onde queriam para se proteger dos horrores que ele implantavam em sua memória agora. MeiLin também estava extasiada. Sua vingança estava indo pelo caminho certo e a putinha que enfeitiçou FengMian finalmente havia ganhado o que merecia.
Quinta: Esse dia foi especial na agenda dos Comensais que cuidavam de Xichen. Eles conversaram com MeiLin e conseguiram permissão para não torturar fisicamente o professor, focando nas aparências que eles tinham pegado emprestado. Eles entraram naquele quarto e sorriram para o bruxo fragilizado. Eles sorriram e se beijaram. Os olhos sem vida de Xichen se iluminaram com uma curiosidade cética naquele momento, mas logo voltaram para a apatia.
O casal se voltou para ele depois da demonstração rígida de intimidade e começou a contar para ele porque ele estava ali, naquela situação, até aquele dia, sem ninguém ir resgatá-lo. Gritaram insultos, descreveram ‘suas’ vidas sem ele, riram dele e de seu estado… Isso foi o que arrancou uma reação de Xichen. Isso fez com que ele gritasse de volta, machucando sua garganta ainda mais e fazendo seus pulsos amarrados sangrarem.
Sexta: Xichen não sabe bem o que houve neste dia também. Ele foi solto do teto, mas mantiveram suas mãos amarradas. Então, o casal tão familiar, mas já tão repulsivo entrou na sala e voltaram com suas palavras doces e forçadas. Quando Xichen usou suas últimas forças para se virar de costas para eles, os dois partiram para cima dele, distribuindo chutes e insultos.
- Dê graças à Madame por não podermos acabar com a sua vida, seu metidinho a bom moço. - Um deles desdenhou. - Você tem sorte. Apesar de não conseguirmos o resultado que ela queria, a Madame não desistiu de te usar no plano dela e vai te deixar voltar agora. Está feliz, lixo, hein?! - Chutes acompanhavam cada palavra.
Xichen não podia responder nem se conseguisse entender o que eles falavam. Ele logo perdeu a consciência pelos machucados acumulados e os golpes que levara na cabeça. O Lan não viu quando uma figura que conhecia chegou no quarto.
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Yang encontrou Xichen em um estado horrível, não sabia exatamente o que fazer, mas sabia que precisava o fazer ficar bem logo. Pegou uma poção da qual haviam separado para ele mais cedo, deixaram bem claro que era uma obrigação fazer o professor tomar as duas. Olhou para o “Doutor” que observava tudo com orgulho.
- O que vocês fizeram com ele? Não vai conseguir se curar em um dia, Doutor, o senhor sabe disso. - falou com o tom sarcástico, não gostava daquele homem - E ele terá cicatrizes, quem resolveu o açoitar dessa forma? Sem cuidados?
- Eu! - O Comensal responsável levantou a mão sorrindo para o ‘colega’, que só revirou os olhos. Outros já haviam colocado Xichen nos seus robes mais característicos e devolvido sua varinha confiscada.
- Já vou levá-lo de volta, então. Acabaram por aqui ou querem torturar mais o coitado? - olhou para MeiLin, que sorriu. Ele odiava aquela mulher, mas ainda não era a hora de fazer nada contra ela, não era uma questão sua.
- Sim, fizemos o possível. Lembre-se de monitorar a situação, quero saber cada sofrimento que cair sobre MengYao. - apenas assentiu antes de segurar o braço do desacordado e desaparatar do lugar.
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