Eu odeio. Eu odeio você quando finge se importar comigo, quando pergunta sem querer saber a resposta, quando me compara, quando me olha como se eu fosse louca, quando fala comigo como se eu fosse retardada. Eu te odeio tanto por fingir compaixão quando, na verdade, só se preocupa com o que os outros vão achar, eu te odeio porque você não me amaria se não fosse obrigada à. Eu odeio ele. Ele que depois de quase duas décadas me afastando, resolveu mandar e dar conselhos. O ponto é que ele não me conhece, nem tenta conhecer. Ele resolveu ser pai depois de anos sendo apenas um fornecedor de dinheiro. Eu o odeio pois ele me julga idiota e parecida com ele, mas ele não faz ideia de quem sou. Eu a odeio. Eu a odeio por ser tudo o que eu não sou, tudo o que eu queria ser, tudo o que eu tento ser e tudo o que eu não posso ser. Ela não tenta, ela não aprecia. Ela chegou em segundo, mas mesmo assim eu sinto que ela ganhou o que nunca deveria ser uma competição. Meu trono que nunca foi meu... Apenas sendo preparado para ela. Ir contra ela é ir contra vocês. Eu a odeio. Eu odeio aquela senhora. Por não poder ser sincera, por tudo a machucar. Assim como eu odeio o senhor que, por ter caído, se tornou frágil. Eu os odeio por terem ficado velhos, por estarem me deixando, por estarem me abandonando. Eu odeio a outra porque ela se deixou levar. Porque é egoísta como eu, porque ela não se importa. --//-- Eu ME odeio. Por ter sobrevivido à gestação, por não ser quem esperavam que fosse, por não ser boa e melhor, por acordar todos os dias. Eu me odeio por não poder recuperar o tempo perdido, por não poder consertar meus erros, por respirar. Eu me odeio por não ter coragem de acabar com o meu sofrimento e fugir para sempre. Eu me odeio por chorar sozinha ao invés de exigir o carinho e a atenção que me são de direito. Eu me odeio por preferir magoar a mim a dizer essas palavras para quem as merece. Eu me odeio por pensar assim, eu me odeio por odiar.

Eu não estou bem. Porém, eu deveria parar. Deveria parar de falar, parar de esperar, parar de querer, parar de pensar, parar de sentir, parar de respirar… Ninguém é obrigado a ouvir minhas dores, a compartilhar minhas angústias, a me reconfortar, a me levar a sério. Eu quero um abraço de mãe, um abraço caloroso, que não julga, que aperta meus pedaços juntos e me mantém inteira. Eu quero uma mão no meu cabelo, um beijo na testa, um sinal que não estou sozinha, que eu não sou perda de espaço e tempo, que eu não incomodo. Eu quero que alguém queira me ouvir. Preciso de permissão para me sentir triste, para me sentir feliz na intensidade que eu sinto. Preciso de tempo para ser. Preciso me sentir amada, essencial, querida, confortável. Mas tudo bem. Eu estou só vivendo esperando a morte mesmo. Pararei. Pararei de pedir, pararei de tentar, pararei de forçar. 2019